Das favelas de Porto Alegre ao mundo

Luan transforma obstáculos em arte

De sobrevivente à artista das ruas, Luan Oliveira saiu das favelas de Porto Alegre e usou os obstáculos impostos pela vida como combustível para ganhar o mundo. Tudo começou aos nove anos, quando recebeu de presente do avô um pequeno e velho skate de plástico. Se atualmente ele é comparado a Neymar, alguns não imaginam a sua batalha em busca do reconhecimento. Conviveu com a violência, se virou sozinho e se manteve longe do crime e das drogas que assolava tantos jovens de sua região. Os pais o abandonaram após o seu nascimento, ele foi criado pelos avós e viveu em algumas casas até ser descoberto em um vídeo na internet, sendo logo alçado ao posto de fenômeno. Em 2007, fez as malas para viver nos Estados Unidos, passou a colecionar conquistas e a cativar o público com manobras mirabolantes no street. Tornou-se uma referência mundial e aposta para os Jogos de Tóquio 2020, embora admita que só iria à Olimpíada se o espírito livre do esporte for preservado. Hoje, se divide entre a terra natal e Long Beach, onde tem um apartamento e passa longos períodos de treino.
- Meu único interesse até hoje é andar de skate, independentemente de onde esteja... Seja em uma sessão para se divertir com os amigos, demo (demonstração), tour, campeonato pequeno, campeonato grande... Tanto faz, desde que esteja nas mãos das pessoas certas e que não tirem a identidade do skate, que sempre foi livre... - disse Luan Olivera.
 
Quando era um anônimo e treinava de forma incansável na pista do IAPI, na capital gaúcha, Luan pediu para uma loja de skate "patrociná-lo". A ajuda era simples, bastava pagar as passagens de ônibus, geralmente, para o Rio de Janeiro ou São Paulo, que ele cuidava do resto. Vendia os prêmios que ganhava, como televisores, aparelhos de DVD e até motos, para ajudar a família e trocava o que sobrava do dinheiro por mais passagens, taxas de inscrição, material e comida.  A vida no sul do país era simples, jogando taco e futebol descalço. O skate era sinônimo de diversão, transporte e válvula de escape. Algumas vezes, depois das disputas, Luan varava as madrugadas andando de skate à espera do ônibus de volta a Porto Alegre com os amigos. 
Se a dedicação já era intensa desde o começo, passou a ser de 101% quando perdeu a avó que o criou em 2005. O gaúcho queria orgulhar a pessoa que mais o incentivou no esporte, seja nos momentos bons ou ruins. Sem medo do perigo, Luan se arrisca e domina como poucos a arte de andar e saltar sobre calçadas, corrimãos, bancos, escadas e espaços do ambiente urbano, palco de seu espetáculo. Não foi à toa que já foi diversas vezes escolhido o "Craque da galera".  
Humildade e disciplina, ensinamentos passados pelos avós, norteiam o seu jeito de levar a vida. Não se considera habilidoso, mas dedicado. Se incomoda ao ser comparado a Neymar e encara tudo de forma positiva, sem deixar abalar pelos tombos no meio do caminho (confira algumas quedas no vídeo abaixo). Certa vez, depois de fugir de casa para se livrar de um castigo, resolveu pular de skate sobre uma escada e pagou o preço da "rebeldia". Resultado: sete pontos na gengiva, três no lábio e um dente arrancado com a pancada. Algum tempo depois, ele voltou ao local e fez o que tinha de fazer: acertar a manobra. Coragem nunca lhe faltou.  
 
Aos 17 anos, ele tentou a sorte em Los Angeles. Sem falar inglês, se virou e foi aprendendo na marra, algumas vezes, sem soltar uma única palavra por dias. Como tudo na vida, Luan soube tirar da experiência o lado bom. Não reclamava e só agradecia pela oportunidade de viver nos Estados Unidos e poder viajar o mundo fazendo aquilo que ama. Ele chamou logo a atenção ao ganhar disputas amadoras em Tampa, em 2008 e 2009. Tornou-se profissional em 2010, e carrega na bagagem conquistas como o Tampa Pro, quatro medalhas nos X Games e o ouro em etapas da Street League Skateboarding (SLS) em Los Angeles e Nova Jersey. O próximo compromisso na SLS será em Tampa, nos 3 e 4 de março. Luan e o seu manager e coach, Rafael Xavier, embarcam no dia 21 para os treinos em LA. 
A sua meta é vencer o Super Crown, etapa mais importante da SLS. O gaúcho anda de skate todos os dias e, quando tem um tempo livre, gosta de jogar futebol, viajar para a praia e fazer churrasco com os amigos. A corrida também passou a ser um dos hobbies prediletos e ainda lhe auxilia no fortalecimento das pernas. Desafiando os limites de espaço, Luan vive em constante evolução e acredita que o céu é o limite.
 

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